Janela Dramática III


[Escuro. De repente duas luzes se cruzam no ar revelando um homem e uma mulher. Eles estão sentados em cadeiras de madeira simples, frente a frente e se olham fixamente nos olhos. Esfíngicos. Reflexos. As cores dos olhos chamam a atenção. Estão descalços e sentem o frio do palco acinzentar suas ideias. Fora do teatro está chovendo. ]

[ Ácido que corrói aquilo que levo debaixo da pele]

[ele inspira]

ELE:  A pele daquilo que levo debaixo do ácido

ELA:  Ácido que corrói a pele que levo debaixo daquilo

[Ele expira de peito pesado]

ELE: Aquilo que corrói o ácido que levo debaixo da pele

[Ela aponta mecanicamente pra ele sem desfazer o movimento]

ELA: A pele daquilo que corrói o que levo debaixo do ácido

[eles se entre olham inexpressivos buscando nos olhos do outro o significado de tudo isso] [ele estrala o pescoço num brusco movimento lateral – CLOCK ]


[As luzes se desfazem metafisicamente no ar. Os personagens desaparecem. Ele se perdeu. Ela nunca mais deu noticias] 


Sempre Seus: Vito Julião 

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