Janela Dramática I



[O personagem focado por uma luz branca enquanto o resto permanece no escuro. O palco se ilumina e revela uma sala vazia, apenas com uma cadeira descadeirada, um relógio velho na parede e uns rebocos desmaiados pelo chão.]

_ Sentado agora nessa cadeira, com as costas firmemente coladas a qualquer encosto, assisto, enquadrado na lei do que não existe, dois assassinos rodando a minha sentença. E a cada volta que suas armas completam no circulo circunscrito no silêncio, silencio. A discussão gira entorno de um tic-tac  que vacila no medo de cada palavra dita e omitida.
Envelhecer é parte do plano, enquanto um, rápido e sutil,  transcende a marca do que se perde, o outro, lento e cruel afia a foice nos números que o cercam
Segundos
Minutos
Horas
Lá fora, na dança da sombra que o sol inscreve na Terra, o coração aperta. Agora vejo quanta distância que há entre entre uma sístole e uma diástole....

[o personagem levanta da cadeira e sai da sala. O relógio cai da parede junto com o reboco, o palco escurece vertiginosamente colando na retina a sombra, o personagem nunca mais foi visto.]



Sempre seus: Vito Julião

Nenhum comentário:

Postar um comentário