Dias londrinos



Está chovendo... É tarde. O sol ainda ilumina, pouco e timidamente, mas ilumina. As luzes dos postes vão se acendendo aos poucos.
Um amigo disse que está um dia londrino. Não sei se é verdade o que ele diz, nunca fui a Londres, duvido muito que ele já, mas a imagem que vai à minha cabeça, e suponho que na dele também, quando se diz “Londres” corrobora bastante pra que eu aceite a imagem que ele me vende.
A Londres que arquitetei em sonhos acordados enquanto andava apor ai combina bem com o dia que corre agora nos ponteiros do relógio: É cinza. Cor que certamente a primeira que usaria se fosse pintar esse velho país. Não um cinza forte, um que quase desmaie para o lado do branco, nem triste nem alegre, muito menos melancólico ou entediado. Cinza.
 Depois viria uma chuva preguiçosa que estenderia uma malha fininha por todos os cantos onde os olhos pousam, e nessa redinha iriam acendendo palidamente as luzinhas daqueles postes antigos, deduzo serem postes, pois olho tão de longe que parecem mais vaga-lumes que caíram na retina formando esferinhas de luz que põe agente melancólico como o diabo.
olhando um pouco mais de perto essa magia impressionista que se descobre, vê-se uns pontos pretos compridinhos, parecem fuligem mas são homens-gentis, com seus fraques, seus guarda-chuvas e sua poses de europeus civilizados apressados. Nas ruas deslizam carros, não muitos, pretos, todos pretos, e pelo cenário brotam umas florezinhas vermelhas que são aqueles ônibus estranhos de dois andares e as cabines telefônicas que só vi em filmes e uma vez, em miniatura, na casa de um parente qualquer que já visitou (suponho) a capital da Inglaterra.
A minha janela também tem seus dias londrinos, com a diferença que aqui, enquanto chove larga e mansamente, em vez de homens gentis, vejo garotos sujos e com fome, jogando sua infância e algumas bolinhas para o alto em troca de umas moedinhas. Estou com frio, aposto que eles também. Eu queria dar a minha Londres pra eles, vesti-los com um fraque preto, cartola e por um guarda-chuva-bengala na mão e desenhar nas caras deles uns rostinhos de homenzinhos Brasileirinhos civilizadinhos colocando-os pra andar por aí  com pressa.
Eles ficariam engraçados.


Sempre seus: Vito julião

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