A perdida beleza de um luar





>>>  A menina <<<

Não era um por do sol, era o horizonte que se levantava colossal, emparedando o dia e transformando-o em noite.
Era isso o que aquela garotinha via. Todo o mundo torcia-se para traz de si, e o leste não era nada mais que um plano terrestre que girava em volta do eixo que ela e o sol formavam.
Tinha uma forte ligação com aquele ser celeste. Era filha de um girassol e tinha os cabelos em corola dourada com os olhos em perfumado negro-marrom.
 Engraçada. Em dias de sol ela era feliz, graminha verdinha, leve. Mas em dia nublados era ranzinza, difícil carregar, chata como propaganda política. Não tinha o que melhorasse o dia dela, e ela ia, mesmo sem querer, deixando os outros tristonhos também. Mas havia os raros dias raros de chuva com sol. Juro que tentaria descrever se fosse possível, mas não dá. É distante-próximo disso: “o canto dos riachos recém-nascidos nas fontes ocultas de uma primavera qualquer”. Ainda sim isso ainda esta fosco perto do fresco calor que ela irradiava.
Durante a noite ela era muito curiosa, ela parecia se pôr em prece. Tinha uma angustia como se houvesse a possibilidade de o sol resolver não vir mais vê-la, e deixasse tudo em eterna sombra
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>>> O acontecido <<<

Mundo tão particularmente ensolarado que um dia ela, na escola, descobriu que a lua não tinha vida própria, era só uma pedra enorme e branca que girava em volta dela e do sol, levando crédito por uma beleza que era do grande regente do seu humor.
A garotinha ficou extremamente irritada (talvez fosse uma pontinha inveja), e quando chegou a casa foi em direção ao pai com o passo firme e de sobrancelhas franzidas, nem “oi” disse, foi logo dizendo a indignação com o novo conhecimento. O pai, coitado, não entendeu nada, ficou parado no meio do imenso branco que tinha na sua ideia enquanto ela fungava séria, esperando uma resposta.
Com certeza quem visse de fora, mesmo sem saber o que se passava, daria uma risada involuntária, discreta. O adulto constrangido pelas enormes reticências que se formavam encima da sua cabeça, e a criança, de baços cruzados, vibrando por um ciúme incompreensivo.
 Para dar fim  a cena o pai disse entre brincalhão e constrangido: “ deixa disso menina”. E com um sorriso amarelo e político a abraçou carinhosamente.
Por essa vez passou, mas a garotinha nunca mais viu a beleza de uma lua cheia.



Sempre seus: Vito Julião

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