[uma atriz no palco]
- Levando em conta tudo o que aconteceu entre
nós dois, hoje sem tanto drama, conclui que o fim de tudo foi o melhor. Do
momento em que nossos olhos se embaraçaram ao instante que nossos corpos se
enroscaram, o fim foi a melhor parte.
Ele me amava e esse é o ponto que torna o ponto final
tão delicioso, um ponto que se torna a joia, a cereja de nosso bolo.
Não digo que não o amava, mas digo que só sei lidar
com o estrago, o amor pra mim é, o que, por excelência, deve acabar; tudo que existe merece fenecer.
Pisando em minha sombra ele chegava por traz de mim
e dizia que me amava e um vazio se alargava; me virava e o beijava porque isso
parecia o certo a ser feito.
Estar com ele era, em meu coração, a petrificação
do verbo estar; estávamos.
Ele parecia feliz, buscava minha mão e nossos dedos
se enlaçavam, caminhávamos juntos e era bom. Era aquilo e nada mais; era aquilo,
nada mais que aquilo, e “aquilo” aquilo me parecia ser.
Sentimento aquilo.
Eu não posso dizer que ele não notava esse aquilo
que se colocava entre nossas mãos. Ele me olhava e se perguntava: por quê; e
algumas vezes ele me perguntou: por que? E eu olhava pra dentro e respondia com
uma não resposta e a alma dele pesava em lágrimas.
Assim fomos levando, amor estéril em noites de
suor, continuava contornando, desviando, de tudo o que ele endereçava a mim,
cartas, poemas, discos, mentiras...
Espero que não me julguem.
Eu só sei fazer assim.
Acabou e posso dizer que fui feliz por que agora,
fora de cena, o amor, o meu amor, se completa, se redime.
[a luzes se apagam, a atriz desaparece]
Sempre Seus: Vito Julião
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