Janela Dramática IV




[uma atriz no palco]

 -  Levando em conta tudo o que aconteceu entre nós dois, hoje sem tanto drama, conclui que o fim de tudo foi o melhor. Do momento em que nossos olhos se embaraçaram ao instante que nossos corpos se enroscaram, o fim foi a melhor parte.
Ele me amava e esse é o ponto que torna o ponto final tão delicioso, um ponto que se torna a joia, a cereja de nosso bolo.
Não digo que não o amava, mas digo que só sei lidar com o estrago, o amor pra mim é, o que, por excelência, deve acabar;  tudo que existe merece fenecer.
Pisando em minha sombra ele chegava por traz de mim e dizia que me amava e um vazio se alargava; me virava e o beijava porque isso parecia o certo a ser feito.
Estar com ele era, em meu coração, a petrificação do verbo estar; estávamos.
Ele parecia feliz, buscava minha mão e nossos dedos se enlaçavam, caminhávamos juntos e era bom. Era aquilo e nada mais; era aquilo, nada mais que aquilo, e “aquilo” aquilo me parecia ser.
Sentimento aquilo.
Eu não posso dizer que ele não notava esse aquilo que se colocava entre nossas mãos. Ele me olhava e se perguntava: por quê; e algumas vezes ele me perguntou: por que? E eu olhava pra dentro e respondia com uma não resposta e a alma dele pesava em lágrimas.
Assim fomos levando, amor estéril em noites de suor, continuava contornando, desviando, de tudo o que ele endereçava a mim, cartas, poemas, discos, mentiras...
Espero que não me julguem.
Eu só sei fazer assim.
Acabou e posso dizer que fui feliz por que agora, fora de cena, o amor, o meu amor, se completa, se redime.

[a luzes se apagam, a atriz desaparece]  

                                                                                             Sempre Seus: Vito Julião



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