Queimando-me na brasa de um cigarro
É preciso muita vida interior pra se chorar. É um exercício que exige muito de nós mesmos. Não é fácil sentir a lágrima reunir-se devagarzinho nas mais profundas auto-mentiras e deixá-la vir nascer no canto dos olhos, para depois libertá-la, deixando rolar livre pela face.
Chorar quando se precisa é aceitar. Por isso é tão difícil. Muito mais fácil é acender um cigarro, puxar o ar queimando a brasa, depois solta o ar poeticamente, em baforadas longas e largar, numa pose estúpida que todos que fumam têm.
Sim, porque todo fumante é covarde, rende-se a uma química mística que envolve o ato de ver a fumaça deixar a boca.
Posso dizer tais coisas por também ser covarde, e antes de aceitar, combater ou simplesmente por as mãos espalmadas na cara, entre o maxilar e as orelhas e gritar, acendo com as mãos tremulas um cigarro e vou fumantemente para um canto de mim, satisfeito com uma espécie de analgesia poética.
Disseram-me que escrevo de mais e vivo de menos. Eles estão certos, mas as coisas estão mudando e de um surdo grito estão se transformando em uma bela noite estrelada.
Isso é tudo.
Sempre seus: Vito Julião
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seus textos e poemas sao incriveis vito....
ResponderExcluirsaudades, marcela miyuki