Os moveis do quarto

( quarto de Van Gogh - Vincent Van Gogh)

De todos os caminhos que escolhera, dentro de um universo infinito de infinitos nadas,  aquelas e somente aquelas escolhas o levaram ao presente que estava destinado a acontecer.
Havia Ele e um quarto comum, bem comum por sinal. Desses com um armário, cama, etc. Todos passivos a qualquer pecado ou martírio, ao passo que o rapaz ficava ali, estático, esperando... Aguardava algo dentro de si. Enquanto esperava olhava de dentro de sua paralisia por uma janela singela e via algumas folhas secas que se desprendiam de sua vida de arvore, despertavam de seu estado de suspensão e caiam... Apenas isso: “Caiam...” Desenroscadas de suas potencialidades rodopiavam alegres e douradas em acrobacias aéreas de liberdade. Que valsa bonita de se ver.
Após um bom tempo ali; parado, uma centelha se deu, sentiu todos os músculos retesarem. Algo na epiderme de sua consciência nascera... Era uma poesia, dessas que passam longe do coração, mas chegam mais perto do amor que meu beijo dos teus lábios.
Ela nascera em uma manjedoura aquecida pelo bafo das quimeras, mas aquilo não era Ele, e por isso foi crescendo e tomando forma, foi invadindo veias e dominando todo o ser.  Tão grande era que começou a apertar o peito, a inflamar seus ossos, incendiar os nervos e a alastrar-se por toda sua alma.
A poesia dominou todo aquele homem, e dentro daquele quarto extremamente comum ele ergueu-se do chão com seus poros transformando-se em canhões de luz, abrindo a boca em  êxtase enquanto a claridade inundava todo o recinto. Num momento de ápice Ele fez-se pó no ar da tarde. Puff.
Sobraram apenas os moveis assustados, mansos e humildes de coração


Sempre seus: Vito Julião de Azevedo
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3 comentários:

  1. A arte é assim: leva o homem a acreditar na possibilidade de ser muito mais do que se é. E nós buscamos isso. A pergunta de um milhão de dólares é: conseguimos suportar essa "completude"?

    Quando a coisa se mostra de forma crua e invade veias e domina o ser, o que é que resta de nós, pobres seres humanos?

    Abraço!

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  2. nao é jones?
    o vito escreve com descriçoes melancolicas que só ele acerta o som... a cara da poesia o quadro acima dela...
    parabens keridinho!

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